quinta-feira, 9 de setembro de 2010

SERTÃO SEM TERRA MOLHADA NÃO PARECE NEM SERTÃO















RETRATO DA SECA

De madrugada o vaqueiro
Bota a sela no cavalo
Depois do cantar do galo
Vai buscar o mandingueiro
Percorrendo o tabuleiro
Sente bastante emoção
Vendo a vasta sequidão
Deixando a terra isolada
Sertão sem terra molhada
Não parece nem sertão.

O sertanejo faminto
Perde o gosto de viver
Porém seu maior prazer
Um bom inverno distinto
Fartura no seu recinto
De milho, arroz e feijão
Pasto para a criação
Jerimum, leite e qualhada
Sertão sem  terra molhada
Não parece nem sertão.

O passaredo dolente
Pára com seu escarcéu
A gente olha pro céu
Mas vê tudo diferente
O planeta transcendente
Muda também de visão
Sem cair chuva no chão
A terra fica parada
Sertão sem terra molhada
Não parece nem sertão.

A mata muda de cor
A folha seca crepita
A selva fica esquisita
Que chega a causar terror
O vento muda o palor
Da grande desolação
O animal olha pro chão
Mas vê a terra sem nada
Sertão sem terra molhada
Não parece nem sertão.

Um solidão tremenda
Do vale até a campina
A família campesina
Procura mudar de tenda
O vaqueiro da fazenda
Não resiste à solidão
A meia noite ladra o cão
Na choupana abandonada
Sertão sem terra molhada
Não parece nem sertão.

O fazendeiro prendado
Reclama como um ranzinza
Vendo a mata cor de cinza
E o campo desmoronado
Sem repasto para o gado
Sente grande comoção
Vendo a tosca inanição
Arrebentando a manada
Sertão sem terra molhada
Não parece nem sertão.













Antonio Agostinho Santiago - Russas/CE - Brasil
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